Conheça os roteiros virtuais criados por guias de turismo durante a pandemia (O Globo – Boa Viagem)

De Londres a Jerusalém, profissionais encontram na internet um novo campo de trabalho e uma forma de conquistar mais clientes

RIO – No começo, eram as lives em redes sociais, ainda sob o impacto do sumiço dos viajantes. Em seguida, vieram os roteiros apresentados à distância, através de programas de videoconferência, mediante pequenas doações. Um ano após as primeiras experiências virtuais, forçadas pela chegada da pandemia da Covid-19, a internet deixou de ser um universo estranho para muitos guias de turismo, que encontraram nos passeios on-line uma forma de continuar trabalhando, garantir algum rendimento, manter contato com seu público e até conquistar futuros clientes.

As novas maneiras de contar histórias sobre os destinos que, por ora, não podemos visitar variam. Alguns guias fazem apresentações com fotos, vídeos e aplicativos como Google Maps na internet. Outros vão para a rua, em transmissões ao vivo pelo celular.

O caminho escolhido por Aline Szewkies, uma gaúcha baseada em Jerusalém, foi o YouTube. Com um smartphone na mão e seis anos de experiência como guia de turismo na cabeça, ela criou o canal “Israel com Aline” em maio do ano passado, quando até o turismo interno estava proibido. Seu primeiro vídeo foi um passeio guiado pelas partes menos conhecidas do Muro das Lamentações, como se ela estivesse conduzindo um grupo presencialmente no local.

A guia de turismo Aline Szewkies na Cidade de Davi, em Jerusalém, durante as gravações para um dos vídeos de seu canal no Youtube 'Israel com Aline' Foto: Acervo pessoal
A guia de turismo Aline Szewkies na Cidade de Davi, em Jerusalém, durante as gravações para um dos vídeos de seu canal no Youtube ‘Israel com Aline’ Foto: Acervo pessoal

Com os pés no chão:como a pandemia mudou a vida de seis profissionais do turismo

A partir dali, muitos passos foram dados em Jerusalém, dentro e fora da Cidade Antiga, e por outras partes de Israel, como o Mar Morto, a cidade histórica de Cesareia Marítima e Jaffa, perto de Tel-Aviv. Para quem não se imaginava na frente das câmeras, os 400 mil inscritos no canal, atingidos no começo deste mês, são uma grata surpresa.

— A crise me apresentou uma nova área de atuação — ela conta. — E quando as coisas voltarem ao normal, quero conciliar os vídeos com os passeios presenciais, que são o que mais gosto de fazer.

A vontade de combinar o real com o virtual é compartilhada com Clarissa Donda, outra guia brasileira no exterior. Tijucana vivendo em Londres desde 2014, ela conseguiu adaptar para a internet alguns de seus passeios voltados para famílias com crianças, um público com o qual trabalhava frequentemente antes da pandemia. Agora, os tours personalizados por castelos, palácios, museus e outras atrações da capital britânica acontecem pelo Zoom, usando de fotos a trechos de filmes. As inscrições são feitas pelo site dondeandoporlondres.com.br e custam a partir de 50 libras.

— Conseguimos trabalhar os mais diversos temas, da Guerra dos Cem Anos à história do mercado financeiro. Claro que não é a mesma coisa que um passeio presencial, mas há muitas formas de adaptar para o mundo virtual, sem perder a emoção e a interação com o viajante — diz Clarissa.

Criador do site Viajar de Casa, Alexandre Disaro organiza passeios on-line com guias locais em mais de dez países Foto: Alexandre Disaro / Acervo pessoal
Criador do site Viajar de Casa, Alexandre Disaro organiza passeios on-line com guias locais em mais de dez países Foto: Alexandre Disaro / Acervo pessoal

Louvre: descubra 3 maneiras de ‘visitar’ de casa o museu, que colocou todo o seu acervo on-line

Manter o impacto que sentimos ao caminhar por um destino pela primeira vez foi o desafio que o fotógrafo Alexandre Disaro encarou no começo da pandemia, quando lançou o site “Viajar de Casa”. A proposta era oferecer passeios virtuais ao vivo, com os guias presentes nos locais que seriam exibidos nas telinhas para os clientes, estes, sim, em suas casas. Os tours, que custam entre R$ 150 e R$ 200 por pessoa e duram por volta de três horas, já passaram por cidades como Roma, Moscou, Paris e Tóquio.

— A viagem on-line não é um paliativo, e sim uma linguagem própria, que veio para ficar — acredita Disaro, que oferece tours virtuais também para empresas. — Há um público ávido por conhecer outros lugares, e que não teria condições de viajar mesmo sem a pandemia .

Roteiros no Brasil

Gabriela Palma (de branco, sentada à esquerda), sócia da agência Sou + Carioca, guia um grupo pela Gamboa, durante o tour da Pequena África, na Zona Portuária do Rio, antes da pandemia Foto: Leo Henck / Acervo pessoal
Gabriela Palma (de branco, sentada à esquerda), sócia da agência Sou + Carioca, guia um grupo pela Gamboa, durante o tour da Pequena África, na Zona Portuária do Rio, antes da pandemia Foto: Leo Henck / Acervo pessoal

A procura vem sendo grande também em território nacional. A agência Sou + Carioca retomou seu projeto de roteiros virtuais pelo Rio em abril, pelo Zoom. Custam entre R$ 15 e R$ 25. Em 2020, já havia feito em formato de lives pelo YouTube, onde ainda é possível assistir aos vídeos.

— Nosso tour mais procurado é pela Pequena África, na Zona Portuária do Rio. E ano passado fizemos um pelo Museu Nacional, usando a plataforma Google Arts & Culture — lembra a guia Gabriela Palma, sócia da agência.

Guia em Teresópolis, Maria Montserrat da Luz Cobo é a gestora do site Turismo Virtual no Brasil, um dos primeiros voltados para os passeios on-line, que completou um ano em abril de 2021 Foto: Acervo pessoal
Guia em Teresópolis, Maria Montserrat da Luz Cobo é a gestora do site Turismo Virtual no Brasil, um dos primeiros voltados para os passeios on-line, que completou um ano em abril de 2021 Foto: Acervo pessoal

Do Cairo a Nova York:um roteiro on-line pela história do Egito Antigo em museus pelo mundo

Outro site pioneiro nesse mercado é o Turismo Virtual no Brasil, que completou um ano este mês. Os tours por cidades das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, que saem por R$ 15, acontecem pelo Zoom, com roteiros previamente preparados e auxílio de fotografias e vídeos.

— Muitos clientes que fizeram um passeio virtual depois contrataram o mesmo guia para um presencial — espera a guia Maria Montserrat da Luz Cobo, gestora da página. — Nossa ideia é servir de vitrine para os profissionais, que sairão mais valorizados dessa experiência.

Nos Estados Unidos, museus embarcam na onda

No começo de 2021, os administradores de Graceland, a famosa casa-museu de Elvis Presley em Memphins, animaram fãs do cantor ao anunciar inéditas visitas on-line pela propriedade. Mas não de graça: cada passeio custa US$ 98,50, algo em torno de R$ 560. Mesmo assim, os tours têm se esgotado rapidamente.

Assim como acontece com os passeios virtuais realizados por guias de turismo, a cobrança pelas visitas on-line orientadas em museus já é uma realidade, sobretudo nos EUA.

Diferentemente dos tours digitais que se popularizaram no começo da pandemia, nos quais o visitante podia “caminhar” de maneira independente pelas galerias, ou acessar parte do acervo, agora os museus oferecem passeios orientados por guias ou outros especialistas,ao vivo, para grupos fechados.

Em Graceland, há quatro roteiros: pela mansão, pelo acervo, pelo cofre onde estão guardados arquivos, e The Graceland Experience, com os pontos altos da propriedade e bônus, como o jato particular e o Cadillac rosa do cantor. Todos guiados pela historiadora residente do museu, Angie Marchese.

Em Nova York, dois dos principais museus da cidade também oferecem tours virtuais pagos. No Metropolitan Museum, o passeio dura uma hora e custa US$ 300 por grupo, que pode ter até 40 pessoas (metmuseum.org/visit/group-visits/virtual-tour). No Guggenheim, o preço para um grupo de até 20 adultos é de US$ 215, e é possível escolher entre seis roteiros diferentes, que exploram desde a arquitetura do prédio à coleção de obras de Kandinsky (guggenheim.org/group-visits).

Por Eduardo Maia – Link da matéria original: https://oglobo.globo.com/boa-viagem/conheca-os-roteiros-virtuais-criados-por-guias-de-turismo-brasileiros-espalhados-pelo-mundo-24971304

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